Beatriz está prestes a completar 40 anos. Casada com o veterinário Arthur (de Rochefide), tem um filho de 5 anos, o Arturzinho ou Júnior.
O casal tem personalidades bem diferentes. Enquanto Beatriz é falante, expansiva e adora se relacionar com os outros, Arthur se sente mais à vontade entre seus cavalos. Beatriz é praticante do sincretismo religioso do Rio e o marido é judeu.
Com sentimentos contraditórios em relação à maternidade, ela se sente consumida por assuntos desinteressantes e com uma carga de responsabilidade que não sabe como lidar. Dependente financeiramente do marido, ela, uma leitora e espectadora voraz de séries de TV, resolve retornar aos bancos da faculdade para fazer uma especialização no curso de Formação de Escritores.
Esotérica, adepta de modismos e afeita aos ensinamentos de auto-ajuda, ela também tenta se tornar Digital Influencer postando nas redes sociais e fazendo propaganda para as marcas que gosta para ver se alguma hora ela decola.
Beatriz largou o curso de direito que cursava numa faculdade do subúrbio do Rio para ser atriz. Extremamente simpática e engraçada, alta, bonita e coquete, ela se orgulhava de ter sido bailarina na adolescência. O ápice de sua carreira foi ter dançado um Pas de deux aos 16 anos com Thiago Soares, o famoso bailarino brasileiro. Primogênita de uma família sem muitas posses que, no entanto, a mimou como uma princesinha, é sonhadora e criativa. Ela tentou a carreira de atriz o quanto pode. Entretanto, como o pai a mantinha dentro de sua vigilante proteção, se cansou das brigas em casa e foi trabalhar. Fluente em francês, bela, gentil e educada ela foi, aos 33 anos, trabalhar como vendedora de uma famosa joalheria carioca.
Lá, ela conheceu Arthur, no dia em que ele foi comprar uma aliança para sua noiva. A noiva era querida de sua mãe e desde a infância frequentou o haras de sua família. Arthur se encantou com Beatriz: seu charme sorridente, sua ingenuidade pueril e, obviamente, suas curvas. Beatriz gostou do jeito tímido e a segurança que Arthur passava, mas ambas qualidades iniciais acabaram por entediá-la profundamente.
NA COMÉDIA HUMANA
Béatrix foi inspirada em Marie d’Agoult, uma escritora francesa conhecida pelo pseudônimo Daniel Stern. Em A Comédia Humana, ela dá nome a um de seus livros e aparece em diversos outros.
Béatrix por Félicité
“Na sua qualidade de tolo, Rochefide interpretou como frieza a ignorância da esposa, classificou Béatrix entre as mulheres linfáticas e frias — ela é loura – (…) Os que contavam aproveitar de sua despreocupada tranquilidade diziam-lhe: “Você é um homem feliz; tem uma mulher fria que só terá paixões cerebrais; ela satisfaz-se em brilhar, suas fantasias são puramente artísticas — seu ciúme, seus desejos ficarão satisfeitos, se ela organiza um salão onde possa reunir todos os belos espíritos; fará orgias musicais e orgias literárias”. E o marido a engolir essas pilhérias com que em Paris se embromam os néscios. (…) Rochefide tem um amor-próprio pesadão, rubro e viçoso que se admira em público e sorri sempre. Sua vaidade espoja-se na estrebaria e alimenta-se ruidosamente na manjedoura, enquanto puxa a sua forragem. (…) A marquesa (Béatrix) teve por mim a mais viva admiração; mas da admiração à inveja não há senão um passo. (…) Nesse tempo, eu a julguei devorada pelo desejo de uma celebridade qualquer. Não obstante, ela tem grandeza de alma, uma altivez régia, ideias, uma facilidade maravilhosa em conceber e compreender tudo; pode falar em metafísica e música, teologia e pintura. (…) há, entretanto, nela um pouco de afetação: tem demasiado o ar de saber coisas difíceis (…) Você verá se me engano. Eis o que nos tornou amigas íntimas.”