Com um perfil grego obtido com cirurgias plásticas, a sessentona Jacqueline lembra o tipo de beleza da soprano Maria Callas. Cabelos escuros, maquiagem impecável, olhos delineados em preto e lábios carnudos bem marcados, ela é a administradora do nightclub La Gonore. Sempre vestida de preto e fumando cigarros ou vaporizadores, a tia de Vautrin toca o negócio para seus misteriosos sócios capitalistas com mão de ferro. Extremamente pragmática, ela fala pouco e baixo, não é de muitos sorrisos, e não possui perfil em mídias sociais. Apaixonada por jóias chamativas e relógios grandes e caros, ela sabe utilizá-los com elegância e possui uma enorme e valiosa coleção de adornos.
Nem todos os funcionários simpatizam com a chefe pois ela não é de se envolver em problemas pessoais e não tem paciência para ouvi-los se o assunto não for relativo a trabalho. Seu nível de exigência e perfeccionismo é altíssimo e ela tudo sabe e tudo vê. Vivida e astuta, ela conhece a natureza humana e acredita que não existe verdade única. Ninguém consegue enrolá-la quer que seja: empregado, fornecedor, fiscal ou cliente. Jacqueline sabe que não existe versão única para os fatos e não toma partido baseado em fofocas da equipe, nem se deixa contaminar. A única pessoa em quem ela confia incondicionalmente, e por quem tem cega dedicação, é seu sobrinho Vautrin. Ela é sua cúmplice fiel para qualquer coisa. Assim como Vautrin, ela consegue decifrar as pessoas rapidamente e tem experiência na vida e em todo tipo de golpe ou malandragem.
Jacqueline sabe o cliente que quer no La Gonore: ricaços AAA. Ela está sempre preparada para satisfazer os desejos mais esdrúxulos de seus clientes preferenciais. Apesar de conhecê-los intimamente, ela mantém absoluta discrição e jamais toma liberdades; também sabe exatamente a hora em que precisa aparecer e ser útil ou se retirar. Quando algo sai errado, ela não se altera ou eleva a voz na frente dos clientes, no entanto fulmina com o olhar a pessoa que cometeu o erro. É uma gerente implacável que não perdoa ou dá segundas chances. Todos a temem e a respeitam, sua inquestionável autoridade é exercida com frieza. Emoção ela só demonstra quando escuta ou assiste certas óperas, assunto sobre o qual tem grande conhecimento.
Jacqueline é formada em farmacologia e se tornou especialista em sintetizar produtos e comprimidos ilegais.
NA COMÉDIA HUMANA
Na obra de Balzac, Jacqueline Collin aparece em diversos romances. A única pessoa que possui seu amor e devoção é seu sobrinho Vautrin-Jacques Collin, de quem é cúmplice fiel e para quem executa cegamente qualquer tarefa que ele determine.
Especialista em disfarces, em A Comédia Humana ela aparece sob diversas identidades como Madame de Saint-Estève, Madame de Nourisson e Asie. Jacqueline teve vários amantes, entre eles, Marat e o químico Duvignon, que lhe ensinou os segredos dos venenos e toxicologia. Entre inúmeras atividades que exerceu, ela foi cafetina e foi enviada à prisão por dois anos por incitação de menores ao mal caminho.