Balzaquianas

Temporada 1

Numa consulta ginecológica, a balzaquiana Laure de Berny faz um check-up da saúde física e de sua vida amorosa. Frustrada em um longo casamento sem sexo, ela questiona se a meia idade talvez não seja o fim. Mas do passado faz-se o futuro, quando André Campi, seu grande amor na juventude, cruza seu caminho e gera lembranças eróticas da sua primeira vez, acendendo sua imaginação e enchendo de desejo um corpo que parecia adormecido.

A vida no interior sempre foi pequena para os sonhos e ambições do jovem Honoré de Balzac. Tanto que no meio da comemoração de sua formatura ele estraga a festa ao anunciar para a família que partirá para a metrópole para se tornar roteirista e alcançar o “amor e a glória”. Os pais ficam indignados, acusam-no de irresponsável e argumentam que é uma loucura, pois ele nunca deu mostras desse pendor. Entretanto, após dias de embates, o obstinado e resiliente Balzac consegue o apoio de sua avó e parte para a metrópole.

A cidade grande fervilha e a empolgação de Balzac não pode ser maior, ali está o palco de suas futuras conquistas (e decepções). Logo ele se instala no Airbnb de Madame Vauquer, lugar comandado por uma anfitriã pouco simpática, mas repleto de personagens complexos, carismáticos e misteriosos.

Laure se enreda num flerte virtual cada vez mais intenso com André e, estimulada pelas recordações, começa a se cuidar mais e sua sensualidade ressurge. No entanto, ela hesita em consumar o ato físico não só por insegurança em relação a seu corpo maduro atual, como também por sentir culpa em relação a seu marido Gabriel e  temor que seu caso seja descoberto pelos filhos.

Diante do primeiro grande obstáculo, Balzac encontra seu grande amor. Sem dinheiro e endividado, ele se vê obrigado a recorrer à ajuda de sua mãe, a autoritária Charlotte. Após uma saraivada de cobranças e críticas, ela resolve apelar para o auxílio de uma antiga amiga, Laure de Berny.

O encontro com Laure é fulminante e incendeia o coração de Balzac. O jovem carente apaixona-se ardentemente por aquela quarentona atraente, calorosa e inteligente que o acolhe com generosidade e doçura. Mas a  ideia de se relacionar com alguém da idade de seus filhos é inaceitável para Laure e ela resiste às investidas de Balzac. O desejo reprimido e lidar com a frustração da recusa o deixa mais vulnerável diante os desafios da metrópole.

Com a imaginação em brasa, Balzac transborda seus sentimentos em um roteiro delirante (baseado em um conto fantástico que escreveu na juventude chamada de “Falthurne – A tirania do falo” 1822-1823). O roteiro chama a atenção de futuros colaboradores como Lepoitevin e inicia-se sua tão desejada carreira de roteirista. Nem tudo são flores, e as obrigações e desejos de grandezas levam Balzac a se viciar em café e, em seguida, em estimulantes sintéticos que lhe são apresentados por outro hóspede do Airbnb, Vautrin. Impulsivo e instável, Balzac compensa suas frustrações em consumos exagerados.

Enquanto isso, a confiante e independente Claire de Castries treina incansavelmente na Hípica. Seus cavalos são suas preciosidades e ela não deixa barato para o empregado que não os trate adequadamente. O novo cavalariço Victor de Metternich parecia ser só mais um alvo de seus impulsos sexuais, no entanto algo desperta em seu coração.

Félicité des Touches é uma intelectual feminista que está mais preocupada em escrever grandes matérias libertárias do que se entregar a pequenos casos. Até que sua vida é invadida pela chegada de Béatrix, que busca acolhimento após brigar com o marido. Seu coração solitário fica abalado quando conhece o talentoso Conti. Enquanto ajuda a amiga, impulsiona a carreira do músico e é alvo da paixão do jovem e atlético Calyste, ela se vê em meio ao turbilhão de obsessões, tramóias e ciúmes.

Um acidente deixa gravemente ferido o marido de Laure e o intuitivo Balzac aproveita o momento para se aproximar mais da balzaquiana. Ela, abduzida numa vida familiar cada vez mais estressante, acaba contagiada pelo ardor e criatividade das investidas. Aos poucos, e às escondidas, os dois se entregam à uma relação que muda suas vidas. Em meio ao sucesso e ao fracasso de uma websérie, entre dívidas de cartão de crédito e frustração de não produzir nada significativo, Laure assume o papel de mentora e amante para o carente e ávido Balzac. Ele fica cada vez mais apaixonado por essa balzaquiana que lhe provê de educação sentimental, carinho e encorajamento e desdobra-se para amenizar o sofrimento que ela passa.

A nova websérie de Balzac, que escreve sob um pseudônimo, um pseudo-documentário de terror com o nome de “A Herdeira do Mal” (L’héritière de Birague – 1822), viraliza e a misteriosa identidade do autor atiça a curiosidade de todos os espectadores.

Outra balzaquiana, uma femme fatale chamada D’Abrantès, entra em cena, e as suspeitas de Laure são atiçadas. Novamente uma obra sua (também baseada em uma de suas obras de juventude) é cancelada e com o apoio emocional e financeiro de Laure ele decide tornar-se um businessman. Enquanto isso, a relação deles é posta em risco quando Charlotte descobre o envolvimento dos dois. No entanto, eles decidem continuar juntos nessa jornada, até que na grande festa de lançamento de seu empreendimento, Balzac é flagrado por Laure com Marie.

Félicité consegue finalmente superar as dificuldades de relações tóxicas que a oprimiam. Na festa de Balzac, ela tem uma visão reveladora que esteve sempre debaixo de seu nariz: encontrar-se e enfim ser livre. Assim, ela parte em uma viagem de autodescobrimento para a Índia.

A relação de Claire e Victor é intensa e frutifica numa gravidez inesperada. Inicialmente, Claire reflete como lidar com essa nova fase de sua vida e esconde tal informação de seu amante. Um acidente durante um campeonato de hipismo a deixa paraplégica, mas seu bebê fica à salvo. Ela decide mergulhar de cabeça e dar luz à criança, e à relação com Victor.

Com o distanciamento de Laure, afundado em dívidas e longe do que faz melhor, escrever, Balzac se vê no fundo do poço e flerta com a possibilidade de se entregar ao abismo.


 

Abaixo esclareço minhas escolhas para os romances que norteiam cada temporada:

Durante anos trabalhando no projeto, conjecturei sobre quais as obras de “A Comédia Humana” deveriam nortear as primeiras temporadas. Quando amadureci a ideia de conduzir a história através das mulheres, vi em “Béatrix” um bom começo pelo fato de ser um romance com duas figuras femininas notáveis e contrastantes. Béatrix, é a encarnação da femme fatale que usa de ardis e depende da afirmação de seu poder de sedução para sentir-se valorizada.  Félicité, ao contrário, é uma celibatária independente e feminista fortemente inspirada na amiga de Balzac, a escritora George Sand. Dessa forma, introduzi na 1ª temporada a backstory de personagens relevantes para as temporadas subsequentes.

A 2ª temporada abrange a trama de “O Pai Goriot”, provavelmente a obra mais conhecida do escritor. Foi a partir dela que Balzac criou a técnica de “retorno de personagens”, precursora da estrutura que conhecemos nos seriados de TV de hoje.

Como sequência natural para a 3ª temporada me veio “Ilusões Perdidas”, uma obra de enormes proporções cuja narrativa se conecta organicamente com “O Pai Goriot” e que tem fôlego para ocupar toda uma temporada, se bem desenvolvida. Entretanto, não consegui deixar de fora sua continuação que se chama “Esplendores e Misérias das Cortesãs”. Esse romance balzaquiano tem um ritmo vertiginoso, uma fabulação intrigante e me abduziu de tal forma que não consegui parar até chegar ao final. Fiz um “binge reading” até descobrir o destino daqueles fascinantes personagens.

Quis esclarecer as razões das escolhas que fiz dentro desse universo fecundo e delicioso, mas tenho ciência de que a ideia raramente se concretiza conforme o projeto inicial.